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Market Access: o paciente no centro das discussões

De olho na importância de um ecossistema mais integrado e colaborativo, as indústrias farmacêutica e de equipamentos médicos vêm sentando à mesma mesa com gestores de saúde para discutir interesses comuns. Mas ainda falta incluir um personagem importante no diálogo: o paciente, o consumidor de seus produtos e serviços


O cenário é complexo. De um lado, os gestores de saúde – SUS (Sistema Único de Saúde), no setor público, e planos de saúde em suas diferentes formatações (cooperativas, autogestão, seguros e planos privados) – que vêm enfrentando um aumento de demanda por melhores serviços. Deles, é cobrado que tenham novas tecnologias, ou seja, medicamentos, procedimentos e exames, para citar alguns exemplos, para proporcionar melhores resultados. Mas tudo isso eleva demais os custos de operação, gerando restrições orçamentárias e pressão por controle de gastos.

Do outro lado, estão as indústrias farmacêutica e de equipamentos médicos, trabalhando em inovações terapêuticas e de tecnologia. Para desenvolvê-las, precisam de investimentos que cubram seus custos. Estes, em geral, vêm do SUS e dos planos de saúde privados.


No meio disso tudo, ainda há o Governo tentando administrar a judicialização da saúde, por meio de uma maior aproximação entre o Ministério da Saúde e o Poder Judiciário, além de buscar modelos de incorporação de novas tecnologias menos rígidos e modelos de riscos compartilhados (risk sharing).


Boas perspectivas


E toda essa complexidade exige novas formas de atuação por parte de todos os stakeholders, incluindo as equipes de market access. A boa notícia é que as perspectivas para isso acontecer são otimistas. Cada vez mais, as indústrias farmacêutica e de equipamentos médicos vêm dialogando com gestores de saúde. No entanto, falta inserir o consumidor na conversa.


“Acredito que nos últimos 10 anos houve uma aproximação maior entre indústria farmacêutica, operadoras de saúde e Governo”, avalia Valéria Clemente, diretora de Acesso, Value Strategy & Princing da MSD (Merck Sharp & Dohme) e pediatra assistencial do SUS. Hoje, segundo Valéria, todos sabem as mazelas e as oportunidade que existem em cada área: “Os desafios não são bilaterais, mas trilaterais, porque há o usuário, que tem de falar o que é valor; quem presta o serviço e, para fechar, quem necessita do serviço e efetua o pagamento”, resume.


Temos uma veia assistencialista muito grande. Enxergamos o paciente como hipossuficiente, quando ele é um participante decisor nesse ciclo. Ele deve ser empoderado para entender o que precisa para ter acesso à saúde.

Valéria Clemente,

diretora de Acesso, Value Strategy & Princing da MSD (Merck Sharp & Dohme) e pediatra assistencial do SUS


O poder de decisão do paciente


Para Valéria Clemente, as conversas vêm evoluindo, mas ainda existe um grande caminho para a ação. “Temos uma veia assistencialista muito grande. Enxergamos o paciente como hipossuficiente, quando ele é um participante decisor nesse ciclo. Ele deve ser empoderado para entender o que precisa para ter acesso à saúde, se isso virá pelo sistema público, por meio dos impostos que paga, ou pelo privado, porque essa é a sua opção. Para o usuário ter esse poder, precisa de educação, conscientização que, por sua vez, deve vir da família e da escola. É também uma questão de educação e de cidadania”, diz Valéria.


O diálogo entre as diferentes partes passa, de fato, pela educação e maior inclusão do usuário dos serviços de saúde. Ricardo Maykot, diretor de Acesso da Novartis e profissional da área farmacêutica há 25 anos, afirma que o envolvimento do cidadão nas rodas de discussão é fundamental para que ele entenda sua importância nesse cenário em que todos precisam conversar para encontrar melhores soluções para o setor. Maykot ressalta que os planos de saúde, por exemplo, sofrem grande prejuízo com fraudes e má utilização do sistema: “Nós, enquanto sociedade, precisamos fazer um uso mais racional dele.”


Hoje, isso não é bem assim: há vários casos de desperdício, por exemplo, quando alguém diz que vai ao médico porque faz tempo que não se consulta e que quer pedir para fazer “todos os exames e mais um tanto” porque, afinal, paga a mensalidade e tem esse direito. Ou quando vai a uma clínica com a guia para 10 sessões de fisioterapia e troca-as por sessões de drenagem linfática, porque acha que está precisando mais delas. Ou quando, em geral, usa o sistema privado, mas ao ter uma doença mais grave, recorre ao SUS para obter um medicamento, porque não consegue liberação do plano de saúde. Isso onera o sistema de saúde e todos perdem.


É preciso, cada vez mais, incluir temas árduos e, por vezes, polêmicos nas conversas. Por exemplo, pensar, juntos, se não é o caso de criar modelos de coparticipação do usuário de planos de saúde, principalmente para custear procedimentos de alta complexidade, pois, do contrário, a sobrevivência das empresas corre riscos. Ou falar sobre a possiblidade de integrar os dados dos pacientes em uma nuvem segura, na qual os stakeholders possam consultar, de forma lícita, as informações dessas pessoas e agir com mais inteligência nas suas estratégias.


Se o usuário ainda não está inserido na rotina de discussões, os sistemas de saúde e as indústrias ligadas a essa área vêm interagindo mais e trabalhando para levantar questões como as citadas acima. Este é um momento bem favorável ao diálogo e à ação. Os recursos são curtos e limitados no SUS, nas empresas de saúde e no bolso do usuário. A hora é agora. “Indústria, Governo, planos de saúde e médicos, todos fazem parte de um mesmo ecossistema que tem o paciente no meio. Se não conversarmos mais para equacionar isso melhor, todo mundo sai perdendo”, diz Ricardo Maykot.


Indústria, Governo, planos de saúde e médicos, todos fazem parte de um mesmo ecossistema que tem o paciente no meio. Se não conversarmos mais para equacionar isso melhor, todo mundo sai perdendo.

Ricardo Maykot, diretor de Acesso da Novartis e profissional da área farmacêutica há 25 anos


Vale a reflexão


  • Vale muito a pena o profissional da área da saúde ser bem próximo de seus pacientes. Isso garante que eles tenham uma vida melhor, mais saudável, com menos ônus para o sistema. O que falta para colocar em prática?

  • Se é senso comum a máxima de que “é melhor tratar a saúde e não a doença”, por que ainda fazemos o contrário?

  • Vamos disseminar os sistemas de coparticipação do usuário do plano de saúde, principalmente para procedimentos de alta complexidade, que podem ameaçar a sobrevivência dos planos?

  • Vale discutir a integração de dados dos pacientes em uma nuvem segura, onde os stakeholders para os quais seja lícito, possam consultar as informações dessas pessoas e agir com inteligência nas suas estratégias.

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